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Triste vida corporal
Alberto da Costa e Silva
Se houvesse o eterno instante e a ave
ficasse em cada bater d'asas para sempre,
se cada som de flauta, sussurro de samambaia,
mover, sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte,
salsa que se parte... Os grilos devorados
não fossem, no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne e triste a nossa vida
corporal, faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.
Alberto Vasconcellos da Costa e Silva, diplomata, poeta, ensaísta,
memorialista e historiador, nasceu em São Paulo, SP, em 12 de maio de 1931, filho do
poeta Da Costa e Silva e de Creusa Fontenelle de Vasconcellos da Costa e Silva.
Formado pelo Instituto Rio-Branco em 1957, serviu como diplomata em Lisboa, Caracas,
Washington, Madrid e Roma, antes de ser embaixador na Nigéria e no Benim, em Portugal, na
Colômbia e no Paraguai. Foi chefe do Departamento Cultural, Subsecretário-Geral e
Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores. Doutor Honoris Causa pela
Universidade Obafemi Awolowo, da Nigéria, foi professor do Instituto Rio Branco e
Presidente e Vice-Presidente da Banca Examinadora do Curso de Altos Estudos.
Foi eleito para a cadeira nº 9 da Academia Brasileira de Letras em 27 de julho de 2000,
tendo tomado posse em 17 de novembro do mesmo ano. Exerce, no ano de 2003, o cargo
de Presidente da Academia Brasileira de Letras.
É o autor dos seguintes livros de poesia:
O parque e outros poemas (1953)
O tecelão (1962)
Alberto da Costa e Silva carda, fia, doba e tece (1962)
Livro de linhagem (1966)
As linhas da mão (1978)
Prêmio Luísa Cláudio de Souza, do Pen Club do Brasil
A roupa no estendal, o muro, os pombos (1981)
Consoada (1993)
Ao lado de Vera (1997)
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Como historiador e africanólogo publicou A enxada e a lança: a África antes dos
Portugueses (1992-1996) e As relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à 1°
Guerra Mundial (1996).
Como ensaísta publicou O vício da África e outros vícios (1989), Guimarães Rosa,
poeta (1992), e Mestre Dezinho de Valença do Piauí (1999).
Como memorialista publicou Espelho do Príncipe (1994).
Organizou várias antologias: Lendas do índio brasileiro (1957, 1969, 1980 e 1992), A
nova poesia brasileira (Lisboa, 1960), Poesia concreta (Lisboa, 1962), Da Costa e Silva
(1997), Poemas de amor de Luís Vaz de Camões (1998) e com Alexei Bueno, Antologia da
poesia portuguesa contemporânea (1999). Dirigiu e foi o principal redator da parte
brasileira da Enciclopédia Internacional Focus (Lisboa, 1963-68).
Poema extraído do livro "As linhas da mão", Difel - Rio de Janeiro, 1978,
pág. 74.
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