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Noturno
Ariano Suassuna
Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.
Ser?que mais Alguém v?e escuta?
Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza sem teus Olhos,
?Aquela por quem meu Sangue pulsa?
Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.
?meu amor, por que te ligo ?Morte?
Ariano Villar Suassuna nasceu no dia 16/06/1927 no Palácio da
Redenção, na Paraíba(PB). Oitavo filho dos nove irmãos, seu pai, João Urbano Pessoa
de Vasconcellos Suassuna, era governador da Paraíba. Sua mãe chamava-se Rita de Cássia
Dantas Villar. Três anos depois, então deputado federal, o pai do autor ?assassinado
no centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ). A fim de evitar inimigos, a família muda-se
constantemente. Em 1933, mudam-se para Tapero? no sertão dos Cariris Velhos da
Paraíba.
De 1934 a 1937, inicia seus estudos e entra para o internato do Colégio Americano
Batista, no Recife. Após concluir o curso Clássico, começa o curso de Direito.
Em 1947, escreveu sua primeira peça teatral, "Uma mulher vestida de sol", e
ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno. Continua escrevendo para teatro, sempre elogiado,
at?que, em 1955, escreve um de seus inúmeros sucessos, "Auto da Compadecida",
texto baseado em três narrativas do Romanceiro nordestino.
Casa-se, em 1957, com Zélia de Andrade Lima, que lhe deu 6 filhos. Tem 13 netos.
Em 1958, começa a escrever "Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do
vai-e-volta". Estuda Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco. J?famoso,
funda, ao lado de Hermilo Borba Filho, o Teatro Popular do Nordeste.
Em 1964, publica "O santo e a porca". Membro fundador do Conselho Nacional de
Cultura; Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de
Pernambuco, começa a articular o Movimento Armorial, que defenderia a criação de uma
arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares.
Em 1970, conclui o "Romance d'A Pedra do Reino". Com um concerto "Três
séculos de música nordestina do Barroco ao Armorial" e uma
exposição de gravuras, pinturas e esculturas, lança no Recife, em 18 de outubro, o
Movimento Armorial.
"A Pedra do Reino" sai em agosto de 1971. No ano seguinte, ganha o Prêmio
Nacional de Ficção do Instituto Nacional do Livro. Eleito para ocupar a cadeira 32 da
Academia Brasileira de Letras, toma posse no dia 09/08/1990.
Em São Jos?do Belmonte (PE), no ano de 1993, realiza-se em maio a primeira festa da
Pedra do Reino, uma cavalgada na qual os participantes, posteriormente, passariam a usar
trajes como os descritos no romance.
Em 1995 ?nomeado, pelo governador Miguel Arraes, secretário estadual da Cultura.
Estréia, em 1996, no Teatro do Parque, no Recife, a série "Grande cantoria",
aula espetáculo que reúne violeiros e repentistas. O biografado, ao violão, cantou um
romance de inspiração sebastianista que aprendera na infância.
A peça "A história de amor de Romeu e Julieta" ?publicada no suplemento
"Mais!" do jornal "Folha de São Paulo", em 1997. No ano seguinte,
participa do lançamento do CD "A poesia viva de Ariano Suassuna".
"O Auto da Compadecida" ?exibida em quatro capítulos pela Rede Globo de
Televisão, em 1999.
Em 2000, escritor recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Em comemoração aos 500 anos do Descobrimento do Brasil, apresenta no
canal GNT o programa "Folia Geral", sobre as origens do carnaval. Toma posse, no
dia 09 de outubro, na cadeira 35 da Academia Paraibana de Letras.
Ao completar 80 anos de idade, em 2007, o autor foi homenageado em todo o Brasil pela
grandeza de sua trabalho.
OBRAS:
Teatro:
Uma mulher vestida de sol (1947), Recife, Imprensa Universitária, 1964. Especial da Rede
Globo de Televisão, 1994.
Cantam as harpas de Sião (ou O desertor de Princesa) (1948). Peça em um ato. Inédita.
Os homens de barro (1949). Peça em 3 atos. Inédita.
Auto de João da Cruz (1950). Prêmio Martins Pena. Peça inspirada em três folhetins da
literatura de cordel. Inédita.
Torturas de um coração (1951). Peça para mamulengos.
O arco desolado (1952).
O castigo da soberba (1953). Entremês popular em um ato.
Auto da Compadecida (1955). Medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos
Teatrais. Rio de Janeiro, Livraria Agir, 1957; 34? ed., Agir, 1999. Estréia no cinema,
1969. Mini-série da Rede Globo de Televisão, 1994, e no cinema, 2000.
O desertor de Princesa (reescritura de Cantam as harpas de Sião), 1958. Inédita.
O casamento suspeitoso (1957). Encenada em São Paulo pela Cia. Sérgio Cardoso. Recife,
Igarass? 1961. Rio de Janeiro, Jos?Olympio, 1974, junto com O santo e a porca, 8?
edição, 1989.
O santo e a porca, imitação nordestina de Plauto (1957). Recife, Imprensa
Universitária, 1964. Medalha de ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais. Rio
de Janeiro, Jos?Olympio, 1974, junto com O casamento suspeitoso, 8?edição, 1989.
O homem da vaca e o poder da fortuna (1958). Entremês popular.
A pena e a lei (1959). Peça em três atos.Premiada no Festival Latino-Americano de Teatro
em 1969. Rio de Janeiro, Agir, 1971, 4?ed., 1998.
Farsa da boa preguiça (1960). Estampas de Zélia Suassuna. Peça em três atos. Rio de
Janeiro, Jos?Olympio, 1974, 2?ed., 1979. Episódio de Terça Nobre, Rede Globo de
Televisão, 1995.
A caseira e a Catarina (1962). Peça em um ato. Inédita.
As conchambranças de Quaderna (1987). Estréia no Teatro Waldemar de Oliveira, Recife,
1988.
A história de amor de Romeu e Julieta. Suplemento Mais, da Folha de São
Paulo, 1997.
Ficção:
A história de amor de Fernando e Isaura. Romance inédito, 1956.
Romance d`A pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta. Romance armorial-popular.
Nota de Rachel de Queiroz. Posfácio de Maximiano Campos. Rio de Janeiro, Borsoi, 1971.
2?ed., Rio de Janeiro, Jos?Olympio, 1972. Adaptação teatral por Romero e Andrade
Lima, 1997.
As infâncias da Quaderna. Folhetim semanal do Diário de Pernambuco, 1976-77.
História d`O rei degolado nas caatingas do sertão / Ao sol da Onça Caetana. Romance
armorial e novela romançal brasileira. Com estudo de Idelette Muzart F. dos Santos. Rio
de Janeiro, Jos?Olympio, 1977.
Fernando e Isaura (1956). Recife, Bagaço, 1994.
Outras obras:
O pasto incendiado (1945-70). Livro inédito de poemas.
Ode. Recife, O Gráfico Amador, 1955.
Coletânea de poesia popular nordestina. Romances do ciclo heróico. Recife, Deca, 1964.
O Movimento Armorial. Recife, UFPe, 1974.
Iniciação ?estética. Recife, UFPe, 1975.
A Onça Castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira (tese de
livre-docência em História da Cultura Brasileira). Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, UFPe, 1976.
Sonetos com mote alheio. Recife, edição manuscrita e iluminogravada pelo autor, 1980.
Sonetos de Albano Cervonegro. Recife, edição manuscrita e iluminogravada pelo autor,
1985.
Seleta em prosa e verso. Estudos, comentários e notas do Prof. Silviano Santiago. Rio de
Janeiro, Jos?Olympio / INL. 1974 (coleção Brasil Moço).
Poemas. Seleção, organização e notas de Carlos Newton Júnior. Recife, Universidade
Federal de Pernambuco / Editora Universitária, 1999.
CD Poesia viva de Ariano Suassuna. Recife, Ancestral, 1998.
Obra traduzida:
Para o alemão
Das Testament de Hundes oder das Spiel von Unserer Leiben Frau der Mitleidvollen (Auto da
Compadecida). Tradução de Willy Keller St. Gallen / Wuppertal. Edition di? 1986.
Der Stein des Reiches oder die Geschichte des Fürsten vom Blut des Geh-und-kehr-zurück
(Romance d'A Pedra do Reino e o píncipe do sangue do Vai-e-Volta). Tradução e notas de
Georg Rudolf Lind. Sttutgart, Hobbit Presse/Kllett-Cotta, 1979, 2a ed., 1988.
Para o espanhol
Auto de la Compadecida. Adaptação e tradução de Jos?María Pemán. Madri, Ediciones
Alfil, 1965.
El anto y la chancha (O santo e a porca). Tradução de Montserrat Mira. Buenos Aires,
Losangue, 1966.
Para o francês
Le jeu de la Miséricordieuse ou Le testament du chien (Auto da Compadecida). Tradução
de Michel Simon. Paris, Gallimard, 1970.
La Pierre du Royaume: version pour européens et brésiliens de bom sens (Romance d'A
Pedra do Reino). Tradução de Idelette Muzart Fonseca dos Santos. Paris, Editions
Métaili? 1998.
Para o holandês
Her testament van den hond (Auto da Compadecida). Tradução de J.J. van den Besselaar.
Nederlandse, Nos Leekenspel, Bussum, 1966.
Para o inglês
The rogue's trial (O santo e a porca).Tradução de Dillwyn F. Ratcliff. Berkeley/ Los
Angeles, University of California Press, 1963.
Para o italiano
Auto da Compadecida. Tradução de L. Lotti. Forli, Nuova Compagnia, 1992.
Para o polonês
História o milosiernej czyli testament psa (Auto da Compadecida). Tradução de Witold
Wojciechowski e Danuta Zmij. Dialog. Rok IV Pazdziernik 1959, NR 10 (42), pp. 24-64.
Sobre Ariano Suassuna:
Dissertações e teses, artigos em jornais, livros e ensaios incluídos em livros
encontram-se relacionados nos Cadernos de Literatura Brasileira - Número 10, novembro de
2000.
O poema ora apresentado foi o primeiro que, para surpresa de Suassuna,
foi publicado em 07/10/1945 no suplemento cultura do "Jornal do Commercio",
segundo consta levado por seu professor, Tadeu Rocha, a Esmaragdo Maroquim, editor do
suplemento. Extraído do livro "Ariano Suassuna - Um perfil biográfico", de
Adriana Victor e Juliana Lins, Editora Zahar - 2007, pág. 50. A versão apresentada, de
1950, apresenta pequenas modificações em relação ao poema publicado em 1945.
Dados obtidos nos Cadernos de Literatura Brasileira,
publicação do Instituto Moreira Salles, n?10, de novembro de 2000, e no site da
Academia Brasileira de Letras.
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