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Espera
Florbela
Espanca
Não me
digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente
o perfume da paixão antiga,
Dos
nossos bons e cândidos abraços!
Sou a
dona dos místicos cansaços,
A
fantástica e estranha rapariga
Que um
dia ficou presa nos teus braços...
Não
vás ainda embora, ó sombra amiga!
Teu
amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta
canção de ondinas lá no fundo!
Espera... espera... ó minha sombra amada...
Vê que
pra além de mim já não há nada
E
nunca mais me encontras neste mundo!...
Florbela d'Alma da Conceição Espanca tem hoje seus versos
admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva,
época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de
então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram "O Livro das
Mágoas" (1919) e "Livro de "Sóror Saudade" (1923).
Às vésperas da publicação de seu livro "Charneca em Flor", em
dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez
com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra.
Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus versos é devida à carga
romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo
masculino.
Poema extraído de uma publicação fac-similar do livro "Sonetos",
12ª edição, pág.125.

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