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 Encontro
Por Ana Miranda
No dia em que nos conhecemos na casa de uma amiga na praia ela nos apresentou, Fulana,
Fulano, e ele não disse nada, nem "Como vai", nem "Muito prazer", nem
nada, não estendeu a mão e virou de costas para mim, puxou uma cadeira e sentou de
costas para mim, todo mundo reparou, aquele silêncio, minha amiga ficou perplexa com a
falta de educação, ela me tirou dali de trás dele, uma situação constrangedora, ela
murmurou: "Ele é um sujeito temperamental". Não entendo seu comportamento.
Nunca vi isso antes. Não consigo compreender, depois veio uma empregada da casa e ele
levantou da cadeira e beijou a mão da empregada como se ela fosse uma condessa, e pensei:
"Será que ele está querendo dizer que respeita os pobres e despreza os ricos?"
Se for assim, está perdoado, não pude tirá-lo da cabeça; ele me hostilizou a tarde
toda, e quanto mais ele me hostilizava mais eu o odiava e quanto mais o odiava mais
pensava nele, era um mistério seu desprezo por mim, não fazia sentido, pensei nele até
o fim da tarde; e fomos embora para nosso hotel; no carro ele conversou com o chofer e
não disse uma só palavra para mim, nem se virou para trás uma só vez, apenas disse um
"Adeus" seco quando saltei do carro, como se eu o incomodasse, e ele se despediu
gentilmente dos outros convidados sorrindo e desapareceu, entrei disfarçando
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as lágrimas e não
pude tirá-lo da minha cabeça, de noite ouvi uma batida na porta do meu quarto no hotel e
abri a porta pensando que era a arrumadeira ou o garçom, mas era ele, estava vestido de
terno com uma flor na lapela, perfumado, os cabelos molhados, dessa vez ele estendeu a
mão e me olhou nos olhos sem nenhum desprezo, o que me deixou ainda mais intrigada, e ele
me convidou para jantarmos juntos, os outros haviam saído, éramos só nós dois no
hotel, fazia sentido que jantássemos juntos, fomos caminhando até a praia, ele estava
gentil, reverente, quase tímido, fazia perguntas e falava apenas de mim, sentamos no
restaurante à beira da praia, ele pediu champanhe, fez um brinde. Ao nosso encontro,
levantei sem esperar a comida e voltei sozinha para o hotel, caminhando pela praia, mas
não conseguia tirá-lo da minha cabeça.
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Ana Miranda nasceu em 1951 em Fortaleza, Ceará. Parte de sua infância e
juventude passou em Brasília (1959/1969) morando no Rio de Janeiro desde então. Sua vida
literária teve início em 1978 com a publicação de um livro de poesias. Seu primeiro
romance, "Boca do Inferno", foi publicado em 1989, obra que já foi traduzida
nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Holanda,
entre outros países. Recebeu o Prêmio Jabuti de Revelação em 1990 e o de Literatura em
2003. Escreve roteiros cinematográficos, ensaios e resenhas críticas para jornais e
revistas, além de realizar palestras em universidades e outras instituições.
Texto extraído do livro "21 histórias de amor", Ed. Francisco Alves - Rio de
Janeiro, 2002, pág. 135.
Para ler outros textos de Ana Miranda, clique
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Leandro
Bierhals (HALS) Bezerra, publicitário, formado pela PUC-RS, é cartunista,
chargista, ilustrador e designer gráfico. Coordena o Núcleo de Editoração Eletrônica
do Instituto de Letras da Ufrgs e é o atual (2005) presidente da Grafar (Grafistas
Associados do Rio Grande do Sul). Colaborou com o jornal O Pasquim21 e publica atualmente
no jornal O Sul, de Porto Alegre.
E-MAIL: hals.c@terra.com.br |
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