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Esse punhado de ossos
Ivan Junqueira
A Moacyr Felix
Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.
Ivan Junqueira nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 3 de novembro de 1934 e aqui
realizou seus primeiros estudos, ingressando em seguida nas faculdades de Medicina e de
Filosofia da Universidade do Brasil, cujos cursos, porém, não chegou a concluir.
Iniciou-se no jornalismo em 1963 como redator da Tribuna da Imprensa, tendo atuado depois
no Correio da Manhã, Jornal do Brasil e O Globo, nos quais foi redator e sub-editor até
1987. Assessor de imprensa e depois diretor do Centro de Informações das Nações Unidas
no Rio de Janeiro entre 1970 e 1977, tornou-se mais tarde supervisor editorial da Editora
Expressão e Cultura e diretor do Núcleo Editorial da UERJ, além de colaborador da
Enciclopédia Barsa, Encyclopaedia Britannica, Enciclopédia Deita Larousse, Enciclopédia
do Século XAÇ Enciclopédia Mirador Internacional e Dicionário Brasileiro de Política,
este último editado pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. Foi também assessor de
Rubem Fonseca na Fundação Rio. Como critico literário e ensaísta, tem colaborado em
todos os grandes jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, bem como
em publicações especializadas nacionais e estrangeiras, entre elas Colóquio Letras,
Revista do Brasil, Senhor, Leitura e Iberomania. Em 1984 foi escolhido como a
"Personalidade Intelectual do Ano" pela UBE. Assessor da Fundação Nacional de
Artes Cênicas (Fundacen) de 1987 a 1990, no ano seguinte transferiu-se para a Fundação
Nacional de Arte (Funarte), onde foi editor da revista Piracema e chefe da Divisão de
Texto da Coordenação de Edições, tendo se aposentado do serviço público em 1997. Foi
ainda editor adjunto e depois editor executivo da revista Poesia Sempre, da Fundação
Biblioteca Nacional. Conferencista, realizou palestras no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo
Horizonte, Salvador, Fortaleza, Manaus, São Luis, Brasília, Recife, Porto Alegre,
Florianópolis, Petrópolis, Buenos Aires, Santiago do Chile e Lisboa, onde, em 1994,
abriu o Projeto Camões, patrocinado pelo Instituto Camões e a Fundação das Casas de
Fronteira e Alorna, ocasião em que ministrou, na Biblioteca Nacional da capital
portuguesa, o curso "A rainha arcaica: urna interpretação
mítico-metafórica", além de realizar recitais de poesia na Casa de Fernando Pessoa
e no Palácio da Fronteira. No ano seguinte voltou a participar do Projeto Camões, tendo
proferido conferências em Coimbra, Porto, Vila Real, Lisboa e Ponte de Sor. De 1995 a
1997 tomou parte no Projeto Ponte Poética Rio-São Paulo, de que constavam leituras
comentadas de poemas de sua autoria e palestras. Ainda em 1995 recebeu da UFRJ, por
unanimidade de votos, o diploma de "notório saber", tendo ali participado
também do ciclo de palestras "Os Poetas". É membro titular do Pen Club do
Brasil e, em 1994, conquistou o Prêmio José Sarney de poesia inédita. De 1996 a 1997
participou, como poeta e ensaísta, das "Rodas de Leitura", do CCBB, organizando
ainda, naquele último ano, com Moacyr Félix e Leonardo Fróes, as "Quintas de
Poesia", sob patrocínio da Funarte. Em 1998 foi curador do Programa de Co-Edições
da Fundação Biblioteca Nacional, que possibilitou a publicação de 35 títulos de
autores das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Ainda em 1998 recebeu a Medalha Cruz e
Sousa, da municipalidade de Florianópolis e, no ano seguinte, a Medalha Paul Ciaudel, da
UBE. Sua poesia já foi traduzida para o espanhol, alemão, francês, inglês, italiano,
dinamarquês, russo e chinês. Em 30 de março de 2000 foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras na vaga de João Cabral de Melo Neto (cadeira nº 37).
Obras publicadas:
- Os mortos (poesia, 1964), menção honrosa do Concurso Jorge de Lima
- Quatro quartetos, de T. 5. Eliot (tradução, 1967)
- Três meditações na corda lírica (poesia, 1977)
- A Rainha Arcaica (poesia, 1980), Prêmio Nacional de Poesia do Instituto Nacional do
Livro (1981)
- T. S. Eliot. Poesia (tradução, introdução e notas, 1981)
- Testamento de Pasárgada (antologia critica da poesia de Manuel Bandeira, 1981)
- Dias idos e vividos (antologia critica da prosa de não-ficção de José Lins do Rego,
1981)
- Cinco movimentos (poesia, 1982), musicados por Denise Emmer no CD Cinco movimentos &
um soneto (1997)
- Como a água que corre, de Marguerite Yourcenar (tradução, 1982)
- À sombra de Orfeu (ensaios, 1984), Prêmio Assis Chateaubriand, da Academia Brasileira
de Letras (1985);
- Prólogos. Com um prólogo dos prólogos, de Jorge Luis Borges (tradução, 1985)
- As flores do mal, de Charles Baudelaire (tradução, introdução e notas, 1985)
- O grifo (poesia, 1987; tradução dinamarquesa, Griffen, 1994), menção honrosa do
Prêmio Jabuti (1988)
- O encantador de serpentes (ensaios, 1987), Prêmio Nacional de Ensaísmo do Instituto
Nacional do Livro (1998)
- Albertina desaparecida, de Marcel Proust (tradução, 1998)
- Ensaios, de T. S. Eliot (tradução, 1988), menção honrosa do Prêmio Jabuti (1989)
- De poesia e poetas, de T. S. Eliot (tradução, 1991)
- Poemas reunidos 1934-1953, de Dylan Thomas (tradução, introdução e notas, 1991),
Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (1991) e Prêmio da Biblioteca
Nacional (1992)
- Prosa dispersa (ensaios, 1991)
- Doze tipos, de G. K. Chesterton (tradução, 1993)
- O signo e a sibila (ensaios. 1993)
- A sagração dos ossos (poesia, 1994), Prêmio Jabuti (1995), da Câmara Brasileira do
Livro, e Prêmio Luisa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil (1995)
- Os melhores poemas de Dante Milano (antologia, introdução e biografia, 1998)
- O fio de Dédalo (ensaios, 1998), e
- Poemas reunidos (1999).
Suas traduções dos poemas de Baudelaire e Leopardi constam das edições das obras
reunidas desses dois autores, publicadas, respectivamente, em 1995 e 1996 pela Nova
Aguilar.
Traduziu ainda, para o teatro:
- A tempestade, de William Shakespeare (com Tite de Lemos), e
- Os justos, de Albert Camus (com Yan Michalski).
Tem no prelo Baudelaire, Eliot, Dylan Thomas: três visões da modernidade (ensaios).
(fonte: Academia Brasileira de Letras).
O poema acima, publicado em "Poemas Reunidos", Record - Rio de Janeiro, 1999,
foi extraído do livro "Os cem melhores poemas brasileiros do século", Objetiva
- Rio de Janeiro, 2001, pág. 317, seleção de Ítalo Moriconi.
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