Dois tipos de razões me levam a escrever: as razões nobres e as plebéias.
As plebéias são as tradicionais: fama, dinheiro e mulheres.
Pensava que, como um escritor, teria um pouco dessas três coisas, mas a fama de um
escritor ?irrisória perto da de um razoável centroavante. O dinheiro ?ridículo, se
comparado ao que ganha qualquer desafinado cantor de pagode.
E, quanto ao gemido das mulheres, qualquer ator que tenha feito uma aparição na Globo ?
mais solicitado do que eu.
Na verdade, at?hoje s?uma leitora sorriu-me de um modo mais insinuante: uma senhora
chamada Noemi. Muito simpática, mas octogenária.
H? porém, os motivos nobres.
Como tive muitos professores humanistas, prendeu-se em mim essa idéia hoje tida como
ridícula de que "devemos lutar por um mundo melhor", hoje trocada por
"devemos maximizar os lucros".
Acho que escrevendo, posso, de alguma forma, influenciar as pessoas. Posso faz?las rir
dos maus costumes e dos maus personagens, posso faz?las perceber um vício e exaltar uma
atitude, posso falar bem da honestidade e mal de Maluf e Pitta, posso falar bem da
coerência e mal da compra de votos pela reeleição, posso falar bem da coragem e mal da
aliança com o PFL.
Mas, na verdade, acho que nesse quesito eu também apenas vou conseguir virar a cabeça de
Dona Noemi.
Enfim, apesar do fracasso de minhas motivações nobres e plebéias, não posso me queixar
da sorte. O trabalho não me deixa suado como um cantor de pagode, não levo pontapés
como um centroavante e, ainda por cima, ando pelas ruas despreocupado, sem temer que fãs
puxem meus cabelos ou tentem rasgar minhas roupas.
Se bem que, no lançamento do meu último livro, Dona Noemi tenha me dado um beliscão na
bunda.
Jos?Roberto Torero Fernandes Júnior nasceu em Santos, em 1963, e formou-se em
Letras e Jornalismo pela Universidade de São Paulo - USP. Iniciou, sem terminar, cursos
de pós-graduação em Cinema e Roteiro. Sua carreira de cronista começou no
Jornal da Tarde, de São Paulo, e posteriormente passou a escrever textos
sobre futebol para a revista Placar e o jornal Folha de S. Paulo,
com a qual colabora desde 1998. ?autor do best-seller O Chalaça, Prêmio
Jabuti em 1995, e de Terra Papagalli, entre outros. Como cineasta, dirigiu e
escreveu curtas-metragens dentre os quais se destaca o premiado Amor!
e trabalhou como roteirista nos longas A Felicidade ?#148; e Pequeno
Dicionário Amoroso. ?sócio proprietário da Realejo Livros, em Santos (SP).
Bibliografia:
Livros
- Galantes Memórias e Admiráveis Aventuras do Virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça
(Prêmios recebidos: 1992 - Prêmio no Concurso Nascente, da Editora Abril e USP, 1994 -
Prêmio Aplub, categoria romance, 1995 - Prêmio Jabuti de Romance e Livro do Ano).
- Brevíssima história das gentes de Santos
- Terra Papagalli (com Marcus Aurelius Pimenta)
- Santos, um time dos céus (com Marcus Aurelius Pimenta)
- Futebol ?bom pra cachorro (com Marcus Aurelius Pimenta)
- Os cabeças-de-bagre também merecem o paraíso
- Ira - Xadrez, truco e outras guerras
- Os Vermes
- Dicionário Santista
- Pequenos amores
Roteiros
- Amor!
- Morte
- Uma História de Futebol
- Amassa que elas gostam
- Pequeno Dicionário Amoroso
- Um Homem Sério
- Memórias Póstumas
- O cantor de samba
- Oswaldo Cruz
- O casamento de Louise
Curtas
- O Bolo (Felicidade ?..)
- Morte
- A Alma do Negócio
- Amor
- A Inútil Morte de S. Lira
- Nunc et Semper
Vídeos
- Glauber Rocha - Quando o cinema virou samba
- O mundo cabe numa cadeira de barbeiro
Teatro
- Sic transit gloria Dei
- Romeu e Julieta Segunda parte (com Marcus Aurelius Pimenta)
- Omelete (com Marcus Aurelius Pimenta)
Televisão
- Professor Planeta (ESPN-Brasil), estrelado por Marcelo Tas.
- Retrato Falado (FantásticoTV Globo), estrelado por Denise Fraga.
- Manual de Instruções (FantásticoTV Globo), estrelado por Pedro Cardoso.