Miscigenação
Elcio Domingues
Os nossos sangues se misturarão
A despeito de teu desrespeito, de teu preconceito sujo, injusto, ignóbil e imperfeito
Os nossos sangues se misturarão
Em nossa dança de exclusão em que me lanças ao nada, ao desencanto, sem afagos, prantos
ou pousadas, sem amparo ou compaixão,
Os nossos sangues se misturarão
Para teu desespero, sucumbido e imerso em insanável desmazelo,
Os nossos sangues se misturarão
Ao definhares todos os dias em tua própria prisão e agonia, conhecerás já sem alarde
nossa insofismável realidade,
Os nossos sangues se misturarão.
Engana-te em tua cegueira, vaidade tola e confusão, quanto ao azul do teu, mas, quanto ao
vermelho do meu, não.
Os nossos sangues se misturarão
Se nas veias de nossos rebentos, ou sobre calçadas bombardeadas, ou ainda em leitos
fétidos e pestilentos,
Os nossos sangues se misturarão
Ou no entrelace de taças perfumadas, ou sobre os campos de superfícies turvadas por
ódio, rancor e danação,
Os nossos sangues se misturarão
Até que implores para que te livrem de tua sorte nefasta, de tua consangüinidade
maldita, de tua genética aleijada, de tua amargura inaudita,
Os nossos sangues se misturarão
Por tua arrogância risível e tua empáfia inútil, por teu egoísmo famélico e teu
capricho fútil,
Os nossos sangues se misturarão
Porque tua concupiscência de glutão não te basta para consagrares tua casta nem
alcançares a perseguida redenção
Os nossos sangues se misturarão
Na confluência de todos os rios que trazem em suas correntes navios transbordantes de
vida, graça e emoção, os nossos deuses, que nos condenaram, enfim apaziguados pelo
sangue de todos os degolados e para nossa surpresa e salvação, nos envolverão num só
abraço e chorarão apagando com suas lágrimas os traços da espada e do canhão, do
apego, da soberba e da ilusão, e assim, sem que mais ninguém ou nada nos impeça, para
sempre,
Os nossos sangues se misturarão
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elciodomingues@nipnet.com.br
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