
Isabelle Cristhinne Silva,
17 anos, reside em Fortaleza, Ceará, onde cursa Jornalismo. 1º lugar na Exposição
Literária Machado de Assis, com a crônica 'Flores de Plástico' em 2008. O conto
"Lágrimas de chuva", foi publicado no Jornal O POVO por duas vezes, em 2008.
Colabora no Gosto De Ler (www.gostodeler.com.br) e mantém blog no qual escreve
diariamente. |
Lágrimas de chuva
Isabelle Cristhinne Silva
Estava decidido e essa era sua única certeza. Era muita estrada para tão pouca certeza.
Pegou a mochila, sua amada, entrou no carro, olhou para a frente e virou a chave. Tudo
aquilo tinha volta; bastava sair daquele carro, se jogar no sofá, se conformar com o que
estava passando na TV e esquecer essa paranóia de buscar o que tanto desejava. Já tinha
adiado muita coisa para deixar aquela decisão para outro dia. Parou em um posto, regulou
os pneus, jogou água nos vidros cinzamente empoeirados e encheu o tanque. Se precisasse
de mais alguma coisa, pararia no caminho. Enfrentando a lentidão do trânsito do centro
da cidade, ignorando bêbados no sinal e pegando quase todos os sinais vermelhos chegou na
rodovia. Olhou pro velocímetro, pro relógio e começou uma corrida de opostos entre os
dois. Maior velocidade e menor tempo. Ele tinha que sair daquele lugar rápido. O fantasma
do retrocesso e do arrependimento o seguiam em silêncio. Ligou o som e colocou na rádio
de toda manhã. Notícias do dólar, do euro, da Bovespa, a crise, os juros, os prazos, as
promoções...não! Naquela hora, a saúde da moeda americana não importava; a crise
poderia devorar o mundo; os prazos poderiam se tornar imortais; seu chefe poderia ter
informado seu sumiço a Polícia Federal, bloqueado sua saída do país por vias aéreas,
afinal ele é o diretor financeiro da empresa e qualquer saída é feita de avião.
"Façais tudo que depois resolvo", era o seu lema. Desligou o som, baixou os
vidros e seguiu sentindo os seus cabelos assanhar e escutando o barulho impactante do
vento. A rodovia foi afinando até se tornar uma ruela de um vilarejo. João estacionou o
carro. Verificou se o celular estava desligado, pegou a sua amada prancha e foi surfar.
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