Encontros?
Juliana
Bezerra de Menezes
Percorreu o restaurante com o olhar. Ele já estava esperando e acenou sorrindo. Aperto de
mão, comentários ordinários sobre o tempo. Consultaram o cardápio e fizeram os pedidos
ao garçom.
Onde ele estaria? Ah! Sim! Já o vi, me acena! Cuidado!Seja mais discreto, não vá chamar
a atenção dos presentes...Será que tem algum conhecido por aqui? Por que o garçom me
olha assim? Na certa, me reconheceu. Não, deve estar conferindo o material.
Homens! Agora essa mania de marcar no mesmo restaurante! Ai, bem que eu pedi para
mudarmos, mas ele não me escuta!Que ridículo: aperto de mão! E essa pasta de executiva
para compor o personagem, a cliente do doutor. Mal sabe o que guardo aqui. Azul! A cor
preferida. Será que vou ter oportunidade de mostrar? Ou será mais um daqueles almoços
sem sobremesa? Sim, muito calor. Poxa! Nem um elogio! Estou usando justamente os brincos
que ele me deu. Calma. Não vê que ele age assim para disfarçar? Escolha logo a
comida...Como ele está lindo! Esse terno lhe cai tão bem, queria tanto fazer um carinho
em suas mãos...Mesmo a esquerda, não importa. Suco de laranja e salada grega, por favor.
Quê? Sem gelo.
Enfim, você apareceu! Pontualmente atrasada, quinze minutos, mas chegou. Não adiantava
explicar que só tinha uma hora de almoço. Ela invariavelmente viria mais tarde. Mas
valia a pena. Ei, meu bem (melhor acenar). Aqui! Ah, que curvas! Que rebolado! Ela me faz
sentir vivo, renovado. Convém não demonstrar muita alegria...Chega! Cansei! Largo tudo
para viver com você...Opa! Calma, rapaz!Você tem um nome a zelar. Aperto de mão, quando
quero sentir esses lábios todos. Paciência. Lindo dia, não? Quente...Ah! Está usando
os brincos que eu dei no último aniversário. Hummmm. Ela não precisa ficar sabendo que
eram para minha filha. Não vou reparar na roupa ou na curva dos seios. Imagina! E depois,
tenho uma reunião chatíssima, melhor nem me empolgar. O cardápio sempre me salva nessas
horas...Qual será a lingerie que ela trouxe na pasta? Tremo só em pensar! O garçom
chega (maldito). Entrada? Leva tempo e estraga o apetite. Saladas, carnes, massas...Como
é maravilhosa, não consigo controlar-me! Que boca! O desenho do rosto, harmonioso...Que
belo arquear de sobrancelhas mandando escolher logo meu pedido. O garçom insiste. Arroz a
piamontese e bife medalhão, por favor. Não, cerveja não! Suco de goiaba. Com gelo, sim?
Que homem bonito. Deve ser a terceira ou quarta vez que aparece por aqui. Elegante! Na
primeira, veio com um amigo que reclamou da conta só para beliscar minha bunda.
Desgraçado. Ele me defendeu. Depois com aquela dona. Bonita, mas mal-vestida. E olha quem
chega? Ela mesma! Que brinco horroroso parece coisa de adolescente. Vulgar. Vê se minha
mãe deixaria eu usar uma blusa decotada daquelas? Ralava a mão na minha cara. E pra que
tão apertada? Ih! Já estão lá os dois de namorico. Ele fica babando por ela, mas a
moça joga duro e não tá nem aí. Muito profissional. Pasta de executiva e tal. Deve ser
alguma cliente. Almoço de negócios percebe-se. Mas que esse fulano está doido pra
pegar, ah isso sim! Conheço de longe esse negócio de homem / mulher. Mas com os dois,
acho que não acontece. Toma. A conta da seis. E traz depois um copo dágua com gelo
pra mim, por favor. Tá um calor dos infernos nesse balcão.
E-mail: jubmp@hotmail.com
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