
Myrthes Mazza Masiero, pedagoga,
declamadora e poeta, nasceu em Lorena (SP), mas mora em São José dos Campos
(SP). Tem poemas publicados em jornais e revistas, sendo detentora da medalha
"Cassiano Ricardo" concedida pela Câmara Municipal daquela cidade.
Leciona na UNIVAP (Universidade do Vale do Paraíba). "Idade média" consta do
livro "Mulheres de São José - Antologia Poética", pág. 89, edição dos
autores organizada por Celso de Alencar. |
Idade Média
Myrthes Mazza Masiero
Estou chegando à idade
bem em plena idade média,
no meio da tempestade,
tempo de tragicomédia.
Estou chegando à idade,
naquela idade careta,
de ver sempre a "coisa preta"
e nem tentar reagir.
Naquela idade inquietante,
se alguém me olha galante,
penso logo que é assaltante,
vou tratando de fugir.
Estou em plena idade média,
idade tão corrosiva,
de ter carência afetiva,
com um pé adiante, outro atrás.
Naquela idade "danada"
que não se fica, nem vai.
Idade do "tudo ou nada".
Idade em tudo que cai.
Estou em plena idade média,
idade de pisar fundo,
de se soltar toda a rédea
e pôr a boca no mundo.
Idade em que nada espanta,
de preferir noite ao dia,
de disfarçar as pelancas
e de esconder as estrias.
Idade em que "Inês é morta".
De não precisar fingir.
De não se fechar a porta
à hora de se dormir.
Idade de pouco assédio,
nenhuma chuva na horta.
De coquetéis de remédios
e de cuidar mais da aorta.
De "inativo" ser tachado.
Idade em que o peito chia.
De ser deixado de lado,
qual "coisa" sem serventia.
Idade em que não há regras
nem se pôr mais fé no taco.
De abandonar a refrega,
meter a viola no saco.
Idade de efeito e causa,
das ondas de calorão.
Da "menô" ou "andropausa"
e da "terceira dentição".
Idade em que tudo desce
e de muita confusão,
em que o ardor arrefece,
em que só sobe a pressão.
Idade em que tudo é mole.
Idade em que o fogo esfria.
Se correr o "bicho" encolhe.
Se ficar... o "bicho" arria!
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